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domingo, 24 de novembro de 2013

LEMBRANÇAS DO PONTAL (ATAFONA - S.J. DA BARRA - RJ)

   Pontal (Atafona - São João da Barra), este lugar me leva de volta ao passado e  proporciona momentos de saudades da minha infância. Tudo começou na década de 50, quando "Seu Pimentel", o meu pai, comprou de um pescador, uma casa de sapê no Pontal. Meu pai desmanchou a casa de sapê e construiu uma outra de alvenaria. Era uma casa pequena, com dois quartos, uma sala, uma cozinha, um banheiro e uma varanda em seu entorno, com vários ganchos em suas diversas colunas, para se apoiar as famosas redes nordestinas e dar um cochilo depois da peixada caprichada que a minha mãe fazia, a Dona Mirota. Ela jamais comprou peixe por lá; éramos amigos e vizinhos dos pescadores, e ela sempre ganhava os peixes. Dona Mirota, era muito respeitada por todos os moradores do Pontal. 
   Era maravilhoso abrir as janelas da sala pela manhã e, a poucos metros de distância, contemplar os patos nadando no mangue e ver pessoas com pequenas varas de pescar, usando como isca bolinhos de farinha, tentando capturar piabas. Também era impossível acordar mais tarde, já que João, dono de um bar que ficava ao lado da Capelinha de Nossa Senhora dos Navegantes, e erguido à sombra de uma enorme amendoeira, mandava ver na radiola, bem alto, as músicas de seu ídolo, o Teixeirinha!



Estrada Campos - Atafona

   Acima e abaixo: A estrada de rodagem de Campos a Atafona ainda era recente em 1927, quando a fotografia foi tirada; entretanto, já existiam jardineiras concorrendo com os trens de passageiros que acompanhavam a rodovia a seu lado, ora paralela a ela, ora cruzando-a. Em suma, como a ferrovia era bem mais antiga ali, a estrada foi construída ao lado de seu leito fazendo-lhe fortíssima concorrência, desde essa época.
   (Fotos da revista Illustração Brasileira, janeiro de 1928, acervo Ralph Mennucci Giesbrecht).

Estrada Campos - Atafona
(1927)

Paulo Vanzolini em Atafona
São João da Barra - RJ

   O saudoso Paulo Vanzolini (em pé, à esquerda, de branco) e amigos durante visita a Atafona, em 1963. Sambista-cientista, Paulo Vanzolini foi grande teórico da biodiversidade, zoólogo e compositor brasileiro, autor de famosas canções como "Ronda", "Volta por Cima" e "Na Boca da Noite". Acredito que este prédio foi o que abrigou o antigo Cassino de Atafona.

Vista aérea parcial do Pontal em Atafona.
São João da Barra - RJ

   Nesta imagem de 1961, pode-se ter uma noção do quanto o mar avançou. Ainda estava erguido o Farol do Pontal, que aparece no alto, à esquerda.


Abaixo imagens extraídas de cenas do filme "Na Boca do Mundo" (1978).

 Capelinha de N. S. dos Navegantes no Pontal.

    A rua que margeava o mangue, o Farol e os bares erguidos no mangue. Dentre eles o Palafita e o do Espanhol.

 Este é um batelão, espécie de barco muito utilizado na travessia Atafona/Convivência.

   Principal rua na parte interna do Pontal. Dava acesso ao posto de gasolina e aos frigoríficos instalados no final do bairro.

O Posto Pontal. Podemos observar que o mar já estava bem próximo.

Farol de Atafona
São João da Barra - RJ

O mar avançava e já estava avisando que iria derrubar o Farol.

Farol de Atafona
São João da Barra - RJ

O Farol agonizava, resistia, mas a batalha já estava perdida. Ia cair, faltava pouco. E aconteceu em 1982.

Camping de Atafona
(1980)
São João da Barra - RJ

Ainda sem as suas casuarinas.

Capelinha de Nossa Senhora dos Navegantes
Pontal (Atafona - São João da Barra - RJ)

   Construída no final dos anos 50, a capelinha de Nossa Senhora dos Navegantes, em 1988, com o avanço do mar, foi destruída.

A Capelinha de Nossa Senhora dos Navegantes e a residência da família Pimentel.
(Pontal - Atafona - São João da Barra - RJ)

  O mar, nesta imagem, já estava chegando perto da capelinha. Uma rua passava entre a capelinha e a casa com varanda que aparece na foto. Esta casa pertencia a minha família. Tínhamos retirado tudo o que havia no seu interior, já que a água do mar, com a maré alta, começava a passear no seu entorno. Dois quarteirões já haviam desaparecido. Nestes quarteirões existiam uma praça, um cais, um posto de gasolina, vários frigoríficos, bares e dezenas de casas.


A Capelinha de Nossa Senhora dos Navegantes
(Pontal - Atafona - São João da Barra - RJ)


   A capelinha aqui ainda resistia ao tempo, porém a residência da minha família já havia sido derrubada pelo mar. Sou eu, este blogueiro, que aparece em pé na duna que se formou, bem no local onde estava erguida a casa da família Pimentel.



A casa.

A saudade existe?
Existe sim. E como existe!
   Depois de demolir a de sapê, nesta foto, detalhes da construção da casa em alvenaria.
  A casa era pequena, mas ficava abarrotada de gente. Vinha parente de tudo quanto é lugar, principalmente os que moravam no Rio de Janeiro. Eu os achava um bando de malucos, já que adoravam pegar um bicho-de-pé, para ficar coçando e depois, na volta, ficar mostrando lá no Rio de Janeiro.
  Nesta época não existia, no Pontal, luz e água encanada. Era tudo no lampião, lamparina ou vela. Água, nas cacimbas ou em bombas manuais. Mesmo com as dificuldades da época, era tudo muito romântico. Muitos pescadores iam lá em casa, para cantar e ficar contando histórias de pescador e do Pontal, sob a luz dos lampiões. Tinha um dublê de pescador e seresteiro. que era o galã do "pedaço", o Nicácio. Ele e o seu violão, animavam as noites praianas.

   Parte da família aí está: este blogueiro (agachado), minha mãe (atrás de mim), uma tia e três dos meus irmãos. Só eu estou aqui para contar esta história, os demais, já não se encontram mais entre nós.




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